Num estudo recente* percebeu-se que quando as crianças chegam aos seis anos já têm tendência a projetar que uma história sobre “uma pessoa muito, muito inteligente” é sobre um homem, não uma mulher. Está provado que a inteligência, tal com a capacidade de liderança, não traduz a diferença de género. Mas qualquer uma destas crianças, que associa inteligência aos homens e que não seja um deles, pode pensar que certos planos de carreira estão menos disponíveis para si quando crescer. As mulheres estão habituadas a pensar que a sociedade, as organizações e os homens carregam preconceitos relativamente a si. E é verdade. Acontece que não é só na infância que as mulheres se prejudicam com os seus próprios enviesamentos e pressões. Ao longo da sua carreira e mesmo quando chegam a líderes continuam a dar tiros nos pés: |
Tiro #1
Procurar corresponder a expectativas imaginadas.
As mulheres estão sujeitas a um duplo-viés: a ideia de que têm, muito mais do que os homens, de ser calorosas e simpáticas, por serem características tipicamente femininas; e ao mesmo tempo, competentes e fortes (o que se espera de líderes). Por isso tendem a contrariar o seu estilo natural de liderança (seja ele qual for), em detrimento de caraterísticas que consideram mais adequadas à liderança: assertividade, confiança, independência, auto-promoção — ou a dar respostas às expectativas de feminilidade (sentido comunitário, preocupação com os outros, espontaneidade e expressividade emocional). Nunca agradarão a todos e continuarão a passar uma imagem de inconsistência e falta de autenticidade.
Tiro #2
Querer provar que é a melhor opção.
São vários os estudos que indicam que as diferenças de género no talento, para a liderança ou não, existem ou favorecem decididamente as mulheres (até em competências tradicionalmente associadas a homens).
Embora os resultados, após os 23 anos de idade, indiquem que a auto-confiança das mulheres é semelhante à dos homens, elas têm efetivamente menos confiança num aspeto: aquele de que os outros valorizam as suas contribuições ou competências.
Mas, se é verdade que querer provar que são melhores dos que os homens aumenta a sua iniciativa quanto líderes, e também as suas boas práticas em termos de auto-desenvolvimento, isto acarreta um impacto perigoso: a tentativa de não cometer erros.
Tiro #3
Esperar reunir todas as competências para aceitar ou candidatar-se a um novo desafio.
É pouco comum as mulheres procurarem de forma ativa e pressionam a contexto à sua volta para obterem uma promoção ou um desenvolvimento na sua carreira. Existe aliás uma abordagem tipicamente mais cuidadosa das mulheres na tomada de decisões sobre a aceitação de novos projetos, objetivos desafiantes e promoções. Essa cautela é associada a uma falta de confiança, bem como à intranquilidade face à incerteza e tem um impacto na gestão das suas carreiras.
Tiro #4
Levar o feedback demasiado a sério.
Enquanto os homens dão mais importância às suas opiniões pessoais e às comparações sociais, as mulheres concentram-se mais em como os outros as veem. Quando nos tornamos excessivamente dependentes da aprovação dos outros, ruminamos mais sobre os nossos medos, dificuldades e inseguranças (e sim, as mulheres tendem a ruminar mais do que os homens.).
Tiro #5
Manter a distância para impor respeito.
É comum as mulheres terem uma preocupação excessiva com a criação de relações profissionais calorosas — sem ser demasiado próxima nem parecer ter favoritos. Esta distância passa muitas vezes por frieza ou agressividade, e é fonte de críticas perfeitamente dispensáveis e contraproducentes para a comunicação, e espírito de equipa.
Tiro #6
Procurar manter todos os pratos no ar e culparem-se por não conseguirem.
Ter um bom equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, fazer projetos desafiantes, aceitar uma promoção, acompanhar de perto os filhos e os pais, manter a casa incrível e ter uma atividade física regular são ambições justificáveis. Contudo,acreditar que se consegue manter tudo isto, sempre, é irrealista e por isso fonte apenas de stress, desânimo e de sentimentos de culpa.
Tiro #7
Usar a rede social apenas como apoio e fonte de energia.
As mulheres têm redes sociais muito fortes (mais fortes do que os homens) e raramente as usam de forma eficaz para fazer a sua carreira avançar de uma forma prática e operacional – seja isso para resolver questões, pedir favores profissionais, promover os próprios projetos ou pedir emprego.
* Lin Bian, 2017, Gender Gap Developmental Data.